Ruben e o "feito único" da AD Sanjoanense num ano de registos ímpares

Ruben Pereira é um jovem que sabe o que quer da vida. Aos 22 anos, tudo o que faz tem como objetivo poder vir a ter uma oportunidade de fazer carreira no futebol, um sonho exigente que o leva a procurar a perfeição em cada etapa do processo. O defesa foi um dos pilares da campanha sólida da AD Sanjoanense na Série D do Campeonato de Portugal, que redundou no apuramento para o playoff de acesso à Liga 3. “Ainda me está a custar cair na real”, admite o capitão “alvinegro”, que fala num “feito único” alcançado por uma equipa jovem, que foi capaz de se impor na série “mais competitiva e equilibrada” da fase inicial do campeonato.

Era um objetivo ambicioso, talvez demais aos olhos de alguns, que a equipa comandada por Sérgio Machado soube agarrar com todas as forças. “Temos de ser realistas. Ninguém acreditava que pudéssemos ir ao playoff da Liga 3”, atira Ruben Pereira, líder de um grupo “com uma média de idades muito baixa”, que foi à luta “com equipas com jogadores que já passaram pelos campeonatos profissionais”.

“Perante tudo isso, o que conseguimos foi algo único, que nos custou muito”, atira o jovem defesa, ainda em êxtase pelo objetivo cumprido. Até à consagração, houve uma época exigente, pela qualidade da Série D do Campeonato de Portugal e pelos constrangimentos criados pela pandemia do novo coronavírus, ao longo da qual a AD Sanjoanense foi mantendo-se sob os holofotes.

Fosse pelos poucos golos que ia sofrendo ou pela série invicta que conseguiu prolongar durante mais de quatro meses, à equipa de São João da Madeira poucos ficaram indiferentes. “Como foi isso possível? Com trabalho. Entrámos em cada jogo com uma vontade enorme de vencer, sempre com grande coesão defensiva”, explica o jogador, que vê nos números alcançados o reflexo de um trabalho de continuidade, iniciado na época passada. “A linha defensiva é praticamente a mesma. Foi pegar nas ideias e passá-las para este ano, com alguns ajustes. Isso ajudou muito”, acredita.

Os dados estatísticos comprovam que a estratégia revelou-se acertada. Com 13 golos sofridos, a AD Sanjoanense foi a melhor defesa da Série D, a par do Canelas 2010. Os “alvinegros” foram ainda a equipa com mais empates somados, 12, e menos derrotas sofridas, duas, tendo estado 16 jornadas sem perder no campeonato, entre outubro de 2020 e março deste ano.

Ainda assim, para Ruben foi precisamente a quebra da invencibilidade que ajudou a equipa a crescer e a encarar o momento das decisões com maior foco. “O jogo com o Valadares foi um jogo-chave. Foi a primeira derrota em casa, contra um adversário direto. Isso até nos fez bem, para cairmos na realidade”, palavra de capitão, que viu a equipa “unir-se ainda mais para as batalhas” que restavam.

A qualificação para a fase de apuramento para a Liga 3 ficou selada na última jornada da Série D do Campeonato de Portugal, com um triunfo por 1-0 diante do RD Águeda. “Foi um jogo de pressão máxima, mas a equipa reagiu muito bem. Em vez de ir a medo, foi com tudo”, refere o defesa, que olha para o que aí vem com ambição. “Sabemos das dificuldades que vamos ter e da qualidade dos nossos adversários, tal como eles saberão da nossa. Já que chegámos até aqui não podemos deitar tudo a perder. Vamos demonstrar o que é a Sanjoanense e tentar o acesso à Liga 3. Vai ser muito bom”, acredita.



Aos 22 anos, Ruben sente que está num “momento-chave” da carreira. Titular indiscutível na AD Sanjoanense, o defesa central acredita que “o sonho de chegar a altos patamares pode tornar-se real”, mas sabe que não pode baixar a guarda para o conseguir. Cada dia é planeado com isso em mente. Para além do trabalho no clube, treina-se com um Personal Trainer e aconselha-se com um nutricionista. “Procuro a perfeição”, sintetiza, ou não fosse o seu lema de vida “conseguir os objetivos ou morrer a tentar”.

Um elemento preponderante na evolução de Ruben tem sido o seu companheiro de setor, Manuel Godinho, “um ícone e um profissional excelente, com uma história incrível”, refere o jovem. “É um dos meus ídolos. Estou muito grato por o ter ao meu lado”, acrescenta o defesa, para quem “muito do sucesso da equipa passa pelo Manuel e pelo Gil, os mais velhos, porque nos ajudam com a sua experiência”.

Defesa central por vocação, Ruben Pereira nunca foi outra coisa na vida. Homem de convicções fortes, tem no futebol o seu único plano de futuro. “Se podia fazer outra coisa? Podia, mas talvez só daqui a uns anos”, confessa. Para já, há um sonho para concretizar, que já o obrigou a muitos sacrifícios.

Quando atingiu a maioridade, e depois de uma formação passada maioritariamente nos campeonatos nacionais, ao serviço de Benfica, Feirense, Boavista e Rio Ave, Ruben encontrou o seu espaço no Campeonato SABSEG, com a camisola do Esmoriz. Nessa altura, conciliava o futebol com um emprego numa empresa de fazer cordas, nada que tenha atrapalhado a sua afirmação na Barrinha.

“O Campeonato SABSEG era muito competitivo e obrigou-me a exceder-me”, recorda. 33 jogos e dois golos depois, mudou-se para a AD Sanjoanense, do Campeonato de Portugal, onde cumpre a terceira época. “Olho para o futebol como o meu trabalho, como aquilo que sonho poder fazer na vida. Acredito muito em mim e que, mais cedo ou mais tarde, as coisas vão acontecer. Estou preparado”, remata.

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15 de Abril de 2021
Rui Santos
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