Do Campeonato de Esperanças para a Liga da Mongólia. A incrível aventura de Enzo Dietrich que prova que “nada é impossível”

Há um ano, Enzo Dietrich disputava as competições regionais no escalão de Sub-23 pelo CCR Válega, ajudando a equipa de Ovar a terminar a Liga Ouro do Campeonato Interdistrital de Aveiro e Viseu no último lugar do pódio. Entretanto, recebeu um convite para se mudar para a Liga principal da Mongólia, e é por lá, a cerca de dez mil quilómetros de distância, que vai dando provas do seu talento. Qual é a lição a retirar daqui? “Nada é impossível. Não é porque não se está a jogar a nível profissional que não é possível, um dia, alcançar o sonho de ser jogador profissional”, sublinha o jovem defesa, de 22 anos.

Desde cedo que Enzo se habituou a ter a mala pronta pelos caprichos do futebol. Natural de Strasbourg, em França, passou a adolescência entre lá e cá, até se fixar em Aveiro, em 2019. Completou a formação na ARC São Vicente Pereira e no FC Cortegaça e, já sénior, representou a AA Avanca, o SC Paivense, o CCR Válega e a AD Nogueirense, esta última no distrito de Coimbra.

A época transata foi particularmente agitada, passada entre Castelo de Paiva e Ovar. “Regredi do escalão sénior para o de Sub-23 depois da minha passagem pelo SC Paivense, onde as coisas não correram bem”, conta. Não se deixou abater por isso e encontrou no escalão de Esperanças o espaço ideal para continuar a evoluir e recuperar a confiança. “Acho que o campeonato Sub-23 dá uma grande liberdade e visibilidade. Para os jogadores jovens, ajuda muito na transição para o futebol sénior”, sublinha.

Os seus bons desempenhos na equipa de Esperanças do CCR Válega abriram-lhe as portas da formação principal e, mais tarde, da Liga da Mongólia, para onde se mudou, destemido, atraído pelo desafio. “Sempre sonhei em jogar na Ásia e sempre gostei de viajar. Tentei, durante meses, contactar equipas em diversos países, até que, um dia, tive uma resposta do diretor do FC Ulaanbaatar. Tudo se desenrolou numa semana”, recorda o jogador.

De um dia para o outro, Enzo Dietrich escalava, de uma assentada, vários escalões competitivos para se juntar a “um dos maiores clubes da Mongólia, destacado por títulos nacionais, desenvolvimento de talentos e participações em competições asiáticas”. Foi um “salto muito grande na intensidade do jogo e na exigência, porque lá todos os jogadores são profissionais”, nota, enquanto descreve uma Liga “em claro desenvolvimento”, apesar de algumas dificuldades peculiares: “As equipas partilham todas o mesmo estádio para treinar e jogar, mas o nível da Mongolian Premier League é bem físico e intenso. Não há muitas fases paradas (nos jogos), é muito defender e atacar logo de seguida”.

Faz-lhe falta, porém, o 'calor', tanto o que vem das bancadas - “o povo mongol não é claramente apaixonado por futebol” - como o que sente no corpo. “O país é imenso e muito desenvolvido. A capital, Ulan Bator, é superpopulosa, mas fora dela existem passagens únicas de um deserto com montanhas sem fim. O frio lá é mesmo glacial, podendo atingir -35° a -40° em janeiro, quando a época está parada. No meu último jogo, frente ao Deren FC (marquei de canto aos 12 minutos), jogámos apenas 21 minutos porque estavam -16° e a neve era muita. O vento e a neve meteram abaixo a eletricidade do estádio”, conta o futebolista.

Por ali, a grande estrela é Nyam-Osor Naranbold, “um dos jogadores mais importantes da história recente da Mongólia, que desempenhou um papel crucial no desenvolvimento e visibilidade do futebol mongol, especialmente ao marcar golos importantes em competições da Confederação Asiática de Futebol (AFC)”. “Ele é amplamente reconhecido como uma lenda do futebol mongol”, reforça Enzo Dietrich.

Num país em que são poucos os que comunicam em inglês, a língua torna-se “uma grande barreira”, mas o jovem luso-francês imagina-se, no futuro, a “ficar na Ásia, descobrindo outros países, culturas e ligas, fazendo aquilo que mais gosto, que é jogar futebol”.

Fã de Nemanja Vidic, William Saliba e Virgil Van Dijk, o defesa continua atento ao que se vai passando por cá. “A elite de Aveiro, o Campeonato SABSEG, é muito competitiva, com várias grandes equipas que disputam os pontos a cada fim de semana. Com a transmissão (dos jogos) em direto fica mais fácil de acompanhar”, valoriza.

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14 de Dezembro de 2024