O perfil do treinador no futebol de formação (parte 1)
O treinador de futebol de formação é cada vez mais um tema de debate na nossa sociedade. Muitas são as questões que se levantam na hora de falar sobre este tema. Que treinador? Quem deve ser o treinador de futebol de formação? Alguém com formação superior? Um ex-praticante? Que formação para os treinadores de futebol jovem? 

Sobre estas questões, julgo ser mais uma questão de paixão e competência do que propriamente de formação superior ou de experiência na modalidade. Penso até que as duas se complementam no exercício das funções de treinador de futebol de formação. 

Quando estamos a falar de futebol de formação, referimo-nos a algo de extrema importância. Estamos a falar do futuro de uma modalidade e de parte do futuro de uma sociedade. Daí a importância do treinador nesta etapa de formação dos jovens. 

O treinador de futebol de formação deve, na minha opinião, ser alguém com uma grande sensibilidade para perceber o que o jovem precisa. Deve perceber onde o pode ajudar e, sobretudo, ter a capacidade para não ser apenas um treinador de futebol, mas sim um “irmão mais velho, um pai, uma mãe, um AMIGO, um conselheiro”. Treinar futebol de formação é muito mais do que o treino propriamente dito. É ser uma referência para o jovem e ajudá-lo a ser melhor, não só como jogador, mas também como homem. Para se ser treinador de jovens futebolistas não basta ter muito conhecimento do jogo e do treino, é necessário muito mais do que isso.  

Penso que o treinador deve receber na sua formação, que o habilita para treinar, uma formação multidisciplinar. A psicologia, a pedagogia, a fisiologia e a nutrição são algumas das áreas disciplinares, para além das que abordam o jogo propriamente dito, que na minha opinião devem fazer parte desta formação. Arrisco-me mesmo a sugerir que se façam cursos de treinador de futebol de formação, completamente virados para o futebol juvenil, para que o conhecimento do jovem atleta e dos seus estádios de desenvolvimento possam ser estudados com outro cuidado. 

Atualmente, o futebol de formação está cheio de “treinadores” que ambicionam o futebol sénior, tentando replicar treinos e condutas que não são adequadas ao contexto em que estão inseridos, que requer uma atenção especial e diferenciada do futebol sénior/profissional. É aqui que entra a sensibilidade que mencionei anteriormente. O treinador de formação não deve, na minha opinião, limitar-se, por exemplo, a afixar uma convocatória no balneário e não dar uma satisfação aos atletas não convocados. É óbvio que o treinador não pode convocar todos, mas também estou certo de que é completamente diferente para o atleta receber umas palavras de incentivo do treinador e perceber que este, apesar de não o convocar, está atento ao seu trabalho diário. 

Para se ser treinador de futebol de formação é necessária uma grande paixão pelo que se faz, ter gosto pelo ensino, ter prazer em fazer evoluir os jovens atletas. Não basta ter boas ideias ou ter treinos muito “elaborados”, se não conseguirmos chegar ao lado afetivo do jovem praticante. É importante que o treinador perceba que, antes de um atleta, está um ser humano e que é fundamental chegar até ele, trazer a sua atenção ao treino/ao jogo.  

Tiago Oliveira
Treinador de Futebol UEFA PRO LICENCE
27 de Outubro de 2016