O mérito e o erro
Dos 21 golos na segunda jornada, 14 foram obtidos em lances de ataque corrente e apenas 7 na sequência de situações fixas de jogo (4 livres diretos frontais, 2 livres laterais e 1 grande penalidade). No Campeonato Safina, há mérito e génio, confirmando o crescimento coletivo que se aguardava e o valor individual de protagonistas; mas muitos jogos decidem-se na sequência de erros de palmatória.


O S. João de Ver, primeiro líder isolado da prova, evidenciou ser uma equipa bem organizada defensivamente e, sobretudo, com boa capacidade de gestão do jogo, mantendo o equilíbrio nos vários momentos. Estes são dois factores fundamentais para a competitividade, decidindo vários jogos entre opositores semelhantes. Houve mérito coletivo, pelo menos numa componente do jogo.
A boa organização defensiva do S. João de Ver não resulta apenas do posicionamento das suas unidades e do domínio de cada uma dessas unidade em relação às suas próprias tarefas. A reação coletiva à perda da bola, com rápida recuperação defensiva, implicando diminuição de espaços com linhas próximas e boa capacidade de pressão ao portador da bola, fez a diferença coletiva no jogo com o Bustelo.


Já os dois golos marcados pelo S. João de Ver (componente ofensiva do jogo) resultaram de erros primários do adversário. O lance do primeiro é paradigmático em como um erro de posicionamento defensivo (táctico) e de concentração mental (moral e volitivo) do Bustelo permitiu êxito a um início de construção fortuito. Tratou-se de um alívio que entusiasmou Leo a fazer o que sabe interpretar com mérito - rapidez no aproveitamento do espaço e movimento interior no 1x1 com finalização -, expondo assim a dificuldade do defensor perante essa ação individual, sem a devida cobertura.
O distanciamento da bola, no corredor oposto e na zona defensiva do opositor, provocou uma diminuição da concentração nos defesas do Bustelo, com consequências no posicionamento e no tempo de reação. O jogo é dinâmico e em cada momento todos os atletas de uma equipa devem ajustar o seu posicionamento, observando três regras fundamentais no contexto coletivo: a bola, o espaço e o adversário. O ajustamento contínuo deve ser feito face à situação de jogo e às características do adversário.


A concentração mental

Este lance surge como exemplo máximo, nesta jornada, de que o mérito e o erro têm uma relação direta no jogo. O nível entre si é que varia. O mérito e o erro podem ter origem nos atributos diretos do jogo (técnicos e tácticos) mas também nos indiretos (físicos, mais qualidades morais e manifestações de vontade). As ações técnico-tácticas são a razão de ser do jogo; as qualidades físicas dão o suporte para que o atleta possa expressar de forma mais eficiente as ações técnicas e tácticas no jogo; os atributos morais e as manifestações de vontade potencializam todas as qualidades anteriores. E neste particular há a concentração mental a influenciar a prestação individual e coletiva, sobretudo em ataques correntes mas também em lances fixos de jogo. Em Avanca, um cabeceamento muito bem executado foi possível quando estavam apenas três defensores do Fiães para quatro adversários, em zona de finalização, na sequência de um livre lateral. O mérito da ação e do aproveitamento do erro valeu o resultado.


Um desafio para a produção e eficiência

É um desafio para todos (sobretudo para os atletas) melhorar a concentração mental, com reflexos na produção e eficiência em competição. A natureza amadora dos protagonistas dificulta-o: é mais custosa a concentração após um dia de trabalho e com outras questões, problemáticas ou não, a preencherem naturalmente a sua mente. Nesta fase inicial não será a motivação a afetar a sua concentração mas, sobretudo, uma menor capacidade física (em quem possa treinar menos vezes ou insuficientemente) ou uma menor predisposição mental para o conteúdo. E é nos treinos que se pratica a concentração. Como? 


- Pensando exclusivamente nas tarefas do treino e não em várias coisas em simultâneo;
- rejeitando pensamentos contrários e desenquadrados aos fins em vista;
- assumindo com clareza compromissos e objetivos perante o grupo e do próprio grupo;
- valorizando os "pequenos nadas" conseguidos, que vão alicerçando a evolução e os êxitos;
- solicitando ajuda sempre que necessário.


Os melhores são os que cumprem mais vezes!


Augusto Semedo
Treinador de futebol
23 de Setembro de 2016
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