Treinadores das equipas Sub-23 elogiam integração na 2.ª Divisão: “Para a visibilidade dos jovens é extremamente importante”

Mais competitividade, maior visibilidade e um nível de exigência superior são as vantagens que a participação, esta temporada, na 2.ª Divisão Distrital de futebol proporciona às equipas Sub-23, na ótica dos seus treinadores. A dureza do desafio gera, por vezes, resultados adversos nos jogos, mas o foco dos responsáveis está no futuro. Ou, como frisa António Silva, técnico do FC Bom-Sucesso: “As derrotas de hoje são as vitórias de amanhã”.

Como apenas sete clubes decidiram inscrever, em 2024/2025, equipas Sub-23 na Associação de Futebol de Aveiro, elas foram incorporadas no campeonato da 2.ª Divisão, ao contrário do que aconteceu há um ano, em que disputaram um Interdistrital que juntou emblemas aveirenses e de Viseu.

“No ano passado, o campeonato tornou-se muito pouco competitivo, porque fizeram-se poucos jogos. Integrar os Sub-23 na 2.ª Divisão Distrital é bom porque a competição é muito mais prolongada e (os atletas) não estão constantemente a jogar com as mesmas equipas”, considera Jorge Martins, treinador do RD Águeda, que no mundo do futebol é igualmente conhecido por 'Hello'. “Eles encaram isto de uma forma mais séria. O Campeonato de Esperanças não tinha o mesmo interesse”, concorda Abel Correia, treinador dos Sub-23 e coordenador da formação no AC Cucujães.

Das motivações ao jogo em si, Mário Marques, pela ARC São Vicente Pereira, salienta que “o importante é eles jogarem, não ficarem preocupados em ganhar ou perder”. Essa é uma gestão sempre complexa de se fazer, sobretudo quando em causa estão jovens a dar os primeiros passos no futebol sénior. “Em termos de crescimento de jogadores, é mais benéfico (participar na 2.ª Divisão), mas em termos de resultados é um pouco complicado porque há uma certa distância entre as equipas seniores e as Sub-23. Eles sentem que estão a crescer enquanto jogadores, mas ficam um bocado tristes por causa dos resultados”, nota Paulo Esgueirão, treinador do NEGE.

Com esse fator em mente, António Silva adverte que “o treinador tem, ou deveria ter, consciência do trabalho que está a desenvolver com os atletas desta faixa etária”, ressalvando que a participação num campeonato com as caraterísticas do da 2.ª Divisão Distrital “permite que (o atleta) cresça num quadro em que o erro ainda lhe é permitido, a pressão ainda é tranquila e os seus índices de ansiedade ainda estão bastante controlados”.

Tudo isso se reflete no desempenho dos atletas dentro das quatro linhas. Paulo Pinto, técnico da ADC Sanguedo, elogia a postura demonstrada pelos seus jogadores. “Contra as equipas com quem jogámos, não senti que tivéssemos sido inferiores em nada. Mostrámos competitividade, demos luta e podíamos ter ganho os jogos, mas ainda falta concentração e maturidade”, o que acaba por ser natural pela diferença de idade, e também de experiência competitiva, para grande parte dos adversários.

“Os jogadores estão a gostar. Ao meu grupo falta 'meter mais o pé', ter mais 'malícia' para fazer faltas ou guardar a bola. Mas esta é uma boa aprendizagem. Eles percebem o percurso que lhes falta percorrer para ganharem essa experiência. Sentem que o nível não está muito longe para as melhores equipas”, acrescenta Germano Coutinho, pelo CRC Rocas do Vouga, com António Silva a reforçar que, “mesmo sendo um pouco 'desigual', mas muito desafiante, esta competição faz com que os atletas estejam a ser trabalhados e 'limados' para poderem estar melhor preparados a curto/médio prazo”.

“Para a visibilidade dos jovens é extremamente importante, para além da competitividade, do ritmo e da intensidade de jogo. A 2.ª Divisão é um campeonato com equipas com alguma qualidade” elogia Jorge Martins, pelo RD Águeda, que vê os adversários “surpreendidos com a capacidade que os miúdos têm tido para integrar este tipo de jogos, mais viris e menos técnicos”.

“Há talento na formação, há talento no distrital”
Desde 2019, a AFA vem organizando competições destinadas ao escalão de Esperanças, que começaram por ser de Sub-22 antes de se fixarem na atual faixa etária de Sub-23. As vantagens da aposta neste tipo de projetos vão desde a possibilidade de os clubes poderem desenvolver internamente jovens talentos, à retenção de praticantes na modalidade.

“Os clubes dizem sempre que apostam na formação, mas 80% dos jovens acabam para o futebol quando chegam a seniores porque não se aposta neles. Com as equipas Sub-23, os jogadores têm uma continuidade no futebol”, sublinha Jorge Martins. Com isso, os clubes conseguem “reter grande parte dos jogadores e podem, no futuro, ter outra perspetiva de um determinado atleta poder integrar o seu plantel (principal)”.

“Em clubes que não têm uma equipa Sub-23 fica uma lacuna muito grande entre os juniores e os seniores. Quando se aposta numa equipa Sub-23, o objetivo é tentar dar minutos para os garotos que sobem (dos juniores) e ver se eles conseguem fazer um bom campeonato, para, na época seguinte, o treinador dos seniores poder levar alguns deles para cima”, explica Mário Marques, com Abel Correia a notar que, no projeto desenvolvido pelo AC Cucujães, “o objetivo principal é que eles possam chegar à equipa principal, mas também mantê-los a jogar futebol e prepará-los para outras equipas” e competições.

Por todas essas razões, estes são projetos com futuro no panorama de Aveiro, acreditam os técnicos. “Acho que as entidades competentes deveriam refletir sobre este assunto tão premente. Há talento na formação, há talento no distrital, mas é necessário ter paciência e criar estratégias para o desenvolver”, sublinha António Silva, pelo FC Bom-Sucesso.

“Já temos esta equipa há dois ou três anos. O presidente entende que é bom guiar os jovens que sobem” de escalão, nota o treinador da ARC São Vicente Pereira, Mário Marques, enquanto Germano Coutinho vê como “muito positivo” o facto de os atletas ganharem “experiência” em competição, tornando “mais fácil à equipa principal do Rocas do Vouga poder ir buscar jogadores aos Sub-23 do que diretamente aos juniores”.

Paulo Esgueirão, técnico do NEGE, acredita que os seus pupilos, “daqui a dois anos, estarão aptos” para outros voos, e Paulo Pinto fala num “projeto muito aliciante no Sanguedo”, cujo “objetivo é formar jogadores para subirem à equipa principal”. “No ano passado já meti quatro jogadores nos seniores e, este ano, dois que começaram connosco também subiram e já nem treinam connosco sequer”, vinca.

Como defende Mário Marques, “o mais importante é que os atletas consigam colocar cá para fora o que eles têm, sem medo de perder”. Até porque perder ou ganhar é desporto. E o desporto é muito mais importante do que isso.

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Atlético Clube de Cucujães - Formação

23 de Novembro de 2024