O futebol ajuda a amenizar o drama de Igor Shkarovsky até ao reencontro com a mãe e os irmãos

Um dia depois de a Rússia ter invadido a Ucrânia, Igor Shkarovsky abandonou o treino do FC Vaguense em lágrimas. Não resistiu à constante ansiedade de se reencontrar com a mãe e os irmãos, que vão atravessar a Europa de carro em direção a Portugal. Enquanto aguarda pela família, o jogador do clube aveirense mantém o contacto com o pai, que ficou na sua terra natal, na periferia de Kiev, no auxílio às tropas ucranianas.

Aos 21 anos, Igor Shkarovsky não esperava viver aquele que está a ser o momento mais tumultuoso da vida da sua família. “Quem é que precisa disto? E porquê? A minha geração, tanto de um país como do outro, sabe que não precisa disto… nem quer isto”. A afirmação do jogador do FC Vaguense, carregada de emoção, é “a constatação de uma tragédia para o povo ucraniano e que é horrível de se assistir à distância”.

Há três anos em Portugal, o avançado da equipa que milita na 2.ª Divisão Distrital vai reencontrar-se com a mãe e os irmãos, que partiram esta quarta-feira da Ucrânia em direção ao nosso país. “A minha família está a viver numa casa de campo da periferia, a Norte de Kiev, mas a minha mãe e os meus irmãos mais novos vão abandonar o país. Falei há pouco tempo com a minha mãe, que me disse que já estão em viagem e, felizmente, até ao momento, está tudo bem”, conta, lamentando a diferente realidade em que o seu pai se encontra.

“Ele tem de ficar na Ucrânia, porque vai ajudar a defender a sua terra e a sua nação. Também tenho falado com ele, que aproveita as pausas para descansar ao máximo, porque tem de fazer turnos de vigia”, refere.

O jogador admite que não está assustado com o que está a acontecer no seu país, mas não esconde a revolta pelos acontecimentos que estão a abalar a Ucrânia e o Mundo. “Estamos em 2022, em pleno século XXI, e não compreendo como ainda acontecem estas coisas. Amo o meu país e o meu povo, que é e sempre foi amigável. Somos uma nação inteligente e de bons princípios, capaz de cooperar com a União Europeia. Espero que isso possa vir a ser uma realidade definitiva”, admite.

“Nos últimos anos tenho percebido todo o bem que o governo ucraniano faz pela nação. Neste momento, estão no meio de um caos, mas os ucranianos estão focados e determinados para que tudo isto acabe rapidamente. Estávamos a fazer tudo certo no sentido de darmos um grande passo em frente para cooperarmos com a NATO, e acredito que um dia isso vai acontecer”, revela.



Igor Shkarovsky considera que a nova realidade em que a sua família se encontra vai exigir de si ainda mais responsabilidade, com a esperança que a viagem da sua família vai terminar da melhor forma e de que o pai vai conseguir manter-se em segurança.

“Eu sei do que o meu pai é capaz e sei o homem que é. Está numa situação horrível, mas é inteligente e perspicaz, e sei que vai sempre fazer as coisas certas… é o meu pai. Não vou pensar que vai dar tudo errado, tenho de ser otimista e focar-me em ser um pilar para a minha mãe e o irmão mais velho ainda mais responsável. Eles precisam de todo o apoio, porque a viagem é longa e deve durar mais de uma semana”, sublinha.

Desde que a guerra na Ucrânia começou, foram poucas as vezes que Igor conseguiu pisar o relvado para treinar, mas acabou por aproveitar a onda de apoio que tem recebido no FC Vaguense e dos seus colegas de equipa para superar a ansiedade.

“Não conseguia treinar, mas tenho tentado encarar tudo isto com sobriedade, até porque o clube e os meus colegas de equipa têm sido prestáveis e apoiam-me muito. Acabei por regressar aos treinos porque é importante continuar e porque o futebol também me ajuda a combater todo o nervosismo”, admite.

“Estamos a tentar tirar alguma pressão do drama que o Igor está a viver”
Paulo Morgado, treinador do FC Vaguense, recorda o dia em que Igor Shkarovsky acabou por abandonar o treino da equipa da 2.ª Divisão Distrital ainda na fase inicial, garantindo que o clube está concentrado em “prestar todo o apoio possível ao jogador”.

“Ele chegou ao estádio cabisbaixo. Acabou por abandonar o treino e eu fui ao balneário, onde o encontrei a chorar. Foi aí que percebi o que ele estava a sentir. Eu e os colegas de equipa estivemos a confortá-lo, porque está a viver uma tragédia”, conta.

O técnico do FC Vaguense realça a forma como o jogador ucraniano aproveitou o apoio dos colegas e o facto de voltar a jogar futebol para recuperar algum ânimo. “Procuramos dar todo o apoio para que ele se sinta melhor no aspeto emocional e psicológico, e o Igor acabou por regressar aos treinos, também porque tem tido mais notícias da família. O pouco tempo que está dentro do campo também o ajuda a aliviar a carga emocional. Acima de tudo, estamos a tentar tirar alguma pressão do drama que o Igor está a viver”, conclui.

3 de Março de 2022
Vítor Hugo Carmo
geral@afatv.pt
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