A vacina do exercício físico que ajuda a lidar com a ausência de competição por um mês

Depois de, em novembro, a Associação de Futebol de Aveiro ter decidido suspender as suas provas até ao início do próximo mês de janeiro, os clubes viram-se obrigados a terminar o ano de 2020 com uma rotina diferente da habitual. Nesse sentido, como se trabalha o físico e a mente dos jogadores durante mais de um mês sem competição?

Dois especialistas de ambas as áreas afirmam que o segredo é introduzir no treino uma gestão motivacional diferente para, no futuro, se poder vir a colher os frutos de um trabalho mais específico que, numa época normal, poderia não estar comtemplado no plano de treinos devido ao calendário competitivo.

Segundo Jorge Silvério, psicólogo do desporto, “tendo em conta o atual contexto em que vivemos, o que acontece é que os jogadores até veem com algum positivismo o que está a acontecer, no sentido em que são dos poucos que ainda conseguem estar em competição durante o ano”. O clínico realça que, a nível mental, “é bom que os jogadores saibam qual é o período específico em que vão estar sem competição”. “Quando se altera uma coisa que já estava prevista, isso pode gerar ansiedade. Contudo, também é bom saber quando tudo acaba e quando se recomeça, porque se reduz a incerteza e, consequentemente, a ansiedade”, completa.

O psicólogo do desporto salienta que, neste período, “só o simples facto de se treinar já é bom, porque o exercício físico funciona quase como uma vacina em relação à ansiedade ou aos momentos de depressão”. “De alguma forma, introduz rotinas e normas na vida dos atletas, embora seja uma normalidade diferente, sem competição”, evidencia, alertando para os cuidados a ter no regresso à competição.

“É normal que os jogadores extrapolem a vontade de jogar com mais ambição para vencer. Havendo esse tipo de sentimento, também tem de haver algum cuidado por parte de quem lidera as equipas, porque essa euforia ou motivação em excesso podem não ser positivos. É preciso ir moderando isso”, avisa.

Jorge Silvério destaca ainda “o papel das equipas técnicas no sentido de manterem o trabalho diário e a motivação acesa, mesmo sem competição”. “É uma oportunidade para os atletas melhorarem alguns aspetos que não estariam tão bem, porque, muitas vezes, durante a época não há espaço para esse trabalho”, afirma.

Um “espelho competitivo” interno ajuda a manter a forma
A preparação física também funciona como um pêndulo na gestão das emoções dos jogadores, porque é aquilo que fazem em campo que os leva a trabalhar “o mais próximo possível das performances competitivas anteriores, quer a nível mental, quer a nível físico”. Quem o diz é Eduardo Henriques, treinador adjunto do CD Estarreja, que coordena a preparação física dos jogadores.

O técnico explica que os clubes “devem passar a informação de que a paragem não pode nem deve ser considerada com desleixo, dado que quem o fizer pode vir a ter consequências com lesões”. “Há ainda a salientar o aproveitamento que estamos a realizar no que concerne à melhoria de alguns aspetos da nossa forma de jogar. Estamos também preocupados com os tempos de recuperação, de forma a evitarmos que haja um cansaço desmesurado que leve a que os atletas fiquem com problemas físicos. Por isso, temos momentos para realizarmos exercícios que previnem as lesões. As tarefas devem ser curtas, mas intensas, com pausas acima do que seria normal em épocas anteriores”, sublinha.

Eduardo Henriques considera ainda que, durante a pausa da competição, é fundamental criar um ambiente competitivo no seio do plantel. “É importante aperfeiçoar esta ideia em jogos de treino competitivos, até para iniciar uma pré-avaliação do estado global da equipa no que concerne às suas diferentes dimensões, em treino e em competição”, refere, lembrando que “vai iniciar-se um ‘novo’ campeonato, com a diferença de que as equipas não partem dos zero pontos”.

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19 de Dezembro de 2020
Vítor Hugo Carmo
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