A quarentena dos miúdos. "O essencial é que eles se mexam"

“Eu falhei muitas e muitas vezes na minha vida, e é por isso que tenho sucesso”. A frase, eternizada por Michael Jordan, lenda do basquetebol mundial, serve como base para o que deverão ser os próximos dias dos mais novos, agora que estão confinados às suas casas. Os contextos podem ser diferentes, o meio para atingir objetivos também, mas “o essencial é que eles se mexam”, salienta Hugo Machado, treinador de futebol, coordenador técnico e personal trainer.

A pandemia da Covid-19 começou por cancelar as atividades dos clubes, obrigou ao encerramento das escolas em todo o país e atirou para casa milhões de jovens, que viram grande parte da sua liberdade reduzida ao conforto do lar. Isso faz com que existam “contextos diferenciados” na elaboração de um plano individual, já que uns podem ter um jardim ou todos os familiares em casa, enquanto outros não. “Cada um está confinado ao contexto que tem”, lembra Hugo Machado, o que vai obrigar os mais novos a apurarem “a imaginação e a criatividade” para poderem dar seguimento ao processo evolutivo na modalidade, mesmo que fechados em casa.

“Não havendo jogo ao fim de semana, o treino não tem carga no volume. Então, trabalhamos todas as dimensões, a força, a resistência e a velocidade, dependendo dos espaços que temos”, explica o treinador, para quem os jovens devem, sobretudo, aproveitar para “aperfeiçoar a técnica e desenvolver a sua agilidade”, para além de que esta é uma fase em que se pode “potenciar a capacidade de persistir à adversidade, algo que também está muito presente no futebol”.

Para conseguirem atingir estas metas, os mais novos “devem criar metas diárias, objetivos e tabelas de pontuação”, de forma a “criarem competitividade”. Ela pode ser conseguida em casa, em jogos com os familiares, ou com os amigos, através das redes sociais. “Podem criar grupos com os colegas de equipa para se superarem”, exemplifica Hugo Machado. Filmarem-se a cada exercício “ajuda a melhorar os movimentos e permite influenciar os outros”, acrescenta o treinador, que pede engenho aos mais novos para não caírem num certo marasmo.

A parede como melhor amiga
“Normalmente, esse é o trabalho de um treinador, e eles podem meter-se nesse papel. Os miúdos podem jogar com diferentes tipos de bolas, o que vai proporcionar movimentos diferenciados ao corpo, monitorizar os objetos com que trabalham, criar movimentos diferenciados e trabalhar com calçado diferente, que é muito importante ao nível da sensibilidade”. Para aqueles que não tiverem com quem jogar, lembrem-se que “a parede é uma das nossas melhores amigas para jogar futebol”, para além de que os animais de estimação podem ser uma excelente companhia em alguns exercícios.

Tudo isto deve ser complementado com uma alimentação equilibrada e com momentos lúdicos, de leitura e de estudo. “Este ‘lockdown’ vai trazer ansiedade às crianças. Todas elas vão ter repercussões diferenciadas, pelo que os pais devem ser compreensivos e criar momentos de lazer e de aprendizagem em família”, diz.

Quando tudo regressar à normalidade, o nível a que cada um se vai apresentar “dependerá das suas vivências” durante o período de isolamento. “Se estiverem inativos, a performance pode baixar”, razão pela qual este é “o momento de cada um se superar”. “Normalmente, os treinos são em equipa e uns evoluem mais do que outros. Nesta fase, só depende de ti. Não encontres desculpas, supera-te e volta mais forte”, remata Hugo Machado.

Fotografia
Lukas Rychvalsky | Pexels

25 de Março de 2020
Rui Santos
ruisantos@afatv.pt
Banner Seaside Promo
Instagram AFA
Notícias Relacionadas
Categorias
Tags
Facebook
Notícias Mais Lidas