"O jogo só faz sentido se for seguro para toda a gente"

Estar preparado para o inesperado, entender o papel dos comentadores desportivos no processo, e perceber que os adeptos são, muitas vezes, o reflexo dos dirigentes desportivos. Estas foram algumas das ideias discutidas no debate “O Futebol e a Segurança”, realizado na noite da passada sexta-feira, no Europarque, em Santa Maria da Feira.

Moderado pelo jornalista José Nunes, este momento de reflexão sobre um dos problemas que mais aflige a modalidade, atualmente, em Portugal, contou com um painel composto por Jorge Braz, selecionador nacional de futsal, João Martins, diretor geral do Vitória Sport Clube, Cândido Costa, antigo jogador de futebol e treinador da equipa feminina da Ovarense, Sandra Bastos, árbitra de elite da FIFA, Ivo Carvalho, diretor de segurança da Comansegur, Jorge Coelho, Comandante dos Bombeiros Voluntários da Feira, Manuel Santos, sub-comissário da PSP da Feira, e Luís Sousa, tenente da GNR da Feira.

Antes do período de discussão, Arménio Pinho, presidente da Associação de Futebol de Aveiro, sublinhou que “a segurança tem que ser a primeira coisa a ter”, admitindo que “é uma lacuna a melhorar” no futuro.

José Nunes foi mais longe, considerando que “o jogo só faz sentido se for seguro para toda a gente”, uma ideia que serviu de mote para a discussão entre os debatentes.

Ivo Carvalho, diretor de segurança da Comansegur, explicou que é necessário “estar preparado para o inesperado”, enquanto Luís Sousa, tenente da GNR da Feira, defendeu que “o Euro 2004 foi um ponto de viragem” na questão da segurança no futebol profissional. Aliás, para Ivo Carvalho, “90% das agressões acontecem em competições não profissionais”, onde existe “maior probabilidade de um árbitro ser agredido”.

Esta realidade foi ratificada pelo sub-comissário da PSP da Feira, Manuel Santos, que explicou que “os policiamentos nos jogos do Feirense têm corrido muito bem”, em muito devido “à colaboração das pessoas e por os jogos serem bem preparados com os dirigentes”. Jorge Coelho, comandante dos Bombeiros Voluntários de Santa Maria da Feira, também concorda que, “cada vez mais, há mais sensibilidade para questões de segurança”.

Então, afinal, de quem é a culpa pelo atual ambiente de insegurança que se vive no nosso futebol? “Toda a gente tem um pouco de culpa”, defende Sandra Bastos, que acredita que “começaram a surgir mais agressões (a árbitros) porque deixou de ser obrigatório o policiamento”.

Por seu turno, João Martins acredita que “os nossos adeptos são o nosso reflexo”, aludindo à ação dos dirigentes fora das quatro linhas. O diretor geral do Vitória Sport Clube explicou que, por vezes, “os clubes são sancionados” por atos de alguns adeptos, razão pela qual as coletividades devem “ter um papel de prevenção e de acompanhamento com as autoridades”. Ter “sistemas de videovigilância” eficazes e punir os adeptos infratores são vias para tornar o futebol mais seguro, acredita.

Na ótica de treinadores e atletas, o ideal é que a questão da segurança passe um pouco ao lado. “A maior preocupação do treinador é não ter qualquer preocupação com isso, e apenas manter o foco no jogo”, salientou Jorge Braz, enquanto Cândido Costa contou que, ao longo da carreira, não deu pelos elementos de segurança. Atualmente treinador e comentador desportivo, o antigo jogador do F. C. Porto, entre muitos outros, considera que “os piores são os comentadores”, em muitos casos “propulsores de violência e geradores de ódio”. “Para falar bem do meu clube, não tenho que falar mal dos outros”, completou, uma frase que arrancou aplausos da plateia.

Segundo explicou Vítor Marques, vereador da Proteção Civil do município de Santa Maria da Feira, o debate inseriu-se num plano de ações mais amplo, que resultará num seminário final, onde se analisarão as conclusões obtidas.

Fotografia
Europarque

22 de Maio de 2017
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