Portugal em emergência. Da última vez a AD Valecambrense viveu uma época em cheio

Quando, no dia 18 de março, foi decretado o Estado de Emergência Nacional, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, devido à pandemia da Covid-19, Portugal entrava numa fase atípica desde o 25 de abril de 1974, mas não única. É que, poucos meses depois da Revolução dos Cravos, que derrubou o Estado Novo, Costa Gomes, à data o Presidente da República, decretou o Estado de Sítio, com incidência na Região Militar de Lisboa.

Estávamos a 25 de novembro de 1975, e a decisão, que tinha como base uma disputa que colocava frente a frente a esquerda militar e os “moderados”, contemplava medidas de exceção como o recolher obrigatório, entre outras.

No entanto, qualquer semelhança entre o 25 de novembro de 1975 e a situação atual termina aqui. É que se há 45 anos se lutava por direitos e conquistas, hoje combate-se a propagação de uma doença que já vitimou milhares de pessoas em todo o mundo. Para além do mais, o Estado de Sítio de 1975 durou até 2 de dezembro do mesmo ano, enquanto o atual Estado de Emergência Nacional, muito provavelmente, deverá ser renovado, pelo menos, até 16 de abril.

Mas sobra a questão: como foram vividos esses tempos em Aveiro? Pelos relatos recolhidos, aqueles foram dias relativamente tranquilos no nosso distrito. São poucas as recordações das figuras do futebol de então, sinal de que em pouco ou nada o seu quotidiano se alterou com a implementação do Estado de Sítio.

Uma época marcante para a AD Valecambrense
Ao contrário do que acontece agora, em 1975 o futebol não parou, numa temporada em que a AD Valecambrense dominou a 1.ª Divisão Distrital. “Aquela foi uma época de interregno das participações do clube na antiga 3.ª Divisão Nacional, uma vez que havia descido na época anterior”, começa por dizer Jorge Coutinho, autor do livro “Golos com História – AD Valecambrense”, que conta a história do clube desde o início do século XX até à atualidade.

Tal como é explicado na obra, a época 1975/1976 arrancou com uma homenagem a Zé Fole pela sua conduta desportiva e moral, já que nos 478 jogos disputados pela AD Valecambrense não viu qualquer cartão. Esse ano ficou, igualmente, marcado pela colocação da vedação do Campo das Dairas, que foi inaugurada no jogo inaugural do campeonato, diante do SC Fermentelos.

Desportivamente, “essa passagem pelo distrital provou que o Valecambrense era uma das melhores equipas de Aveiro na altura”, acredita o autor, enquanto recorda uma equipa da qual faziam parte “alguns históricos do clube, como Fernando, Pelé, Damas, Zé Almeida, Amaro, Macedo, Jaime e Carlos Alberto”. “De todos, talvez Carlos Alberto fosse o mais importante, já que jogou cerca de duas décadas no clube, entre 1960 e 1980. Tinha a alcunha de "Gazela", porque era muito veloz e um excelente finalizador”, prossegue Jorge Coutinho, que realça, ainda, “Carvalha, vindo da Sanjoanense, que marcou, também, bastantes golos”. No comando técnico da equipa estava Almeida, “antiga glória da Sanjoanense”, que cumpria o papel de jogador-treinador.

Apesar de os dados sobre a temporada 1975/1976 não serem abundantes, foi possível perceber que a 1.ª Divisão Distrital não sofreu qualquer interrupção no período em que vigorou o Estado de Sítio. A AD Valecambrense sagrou-se campeã de Aveiro, com 79 pontos somados, mais sete do que o 2.º classificado, o CD Estarreja. A AA Avanca fechou o pódio, enquanto a UD Bustos foi a última classificada. Como nota de curiosidade, o Fiães SC, que terminou a prova na 5.ª posição, teve uma falta de comparência no registo.

Um dos dados que saltam à vista é o número de golos marcados pela equipa de Vale de Cambra nessa época, 74, mais 24 do que o segundo melhor ataque da prova, o FC Cortegaça, com 50. Carlos Alberto, com 13 golos apontados, foi o artilheiro da equipa, seguido de perto de Carvalha e de Jaime, que marcaram 12 cada.

Formador no CENFIM, em Oliveira de Azeméis, e professor de História contratado na escola de Pardilhó, em Estarreja, Jorge Coutinho é, ainda, autor de um blog sobre a AD Valecambrense, que foi uma das inspirações para lançar a obra “Golos com História – AD Valecambrense”. O ponto de partida para a sua conceção foi o livro do Prof. Martinho Almeida “Contributo para o conhecimento da história da ADV”, de 1995. “Ao contactar com esse livro fiquei curioso para saber para além daquilo que ele divulgava e, fundamentalmente, quis conhecer aquilo que não tinha vivido como sócio e adepto do Valecambrense”, completa Jorge Coutinho.

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29 de Março de 2020
Rui Santos
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