Marco Rodrigues ia jogar consola mas acabou como árbitro assistente num dérbi real

A manhã do último domingo estava a ser igual a tantas outras para Marco Rodrigues. Entre o habitual passeio de mota ou ficar por casa com a família, optou pela segunda, e quando se preparava para ligar a consola para descontrair um pouco o seu telemóvel tocou. Do outro lado, António Costa, presidente do Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol de Aveiro (AFA), explicou-lhe que o árbitro do jogo entre o SC Espinho e o Lusitânia de Lourosa FC, do Campeonato de Portugal, tinha-se lesionado e perguntou-lhe se tinha o saco preparado para desempenhar o papel de árbitro assistente. “Ele está sempre pronto”, respondeu-lhe de pronto o jovem árbitro, de 25 anos, que, após ter sofrido uma lesão no início da época, admite que precisava de um momento como este.

Pouco mais passava da meia hora de jogo quando João Pereira dava sinal de que não tinha condições físicas para continuar em campo. O árbitro principal do encontro já tinha sido assistido instantes antes, mas não aguentou e foi forçado a parar a partida. Rui Eiras, até aí árbitro auxiliar, foi promovido a árbitro principal, mas ficava por preencher uma vaga como assistente para completar a equipa de arbitragem. Como o jogo se realizou à porta fechada, não foi possível recrutar ninguém da bancada para suprir essa falta, pelo que foi necessário recorrer a alguém exterior ao jogo.

É aqui que entra Marco Rodrigues nesta história. Inteirado da situação, António Costa, presidente do Conselho de Arbitragem da AFA, entrou em contacto com o jovem árbitro natural de Ovar, um dos requisitos para resolver a situação de forma célere, uma vez que o jogo se realizava no Estádio Marques da Silva, casa emprestada do SC Espinho esta época. Quando Marco atendeu, estava longe de imaginar o que lhe iria ser pedido. “Estava a ser uma manhã de domingo tranquila. Quando o telemóvel tocou, estava a preparar-me para ligar a consola para jogar FIFA”, recorda.

Explicada a situação, Marco pegou no saco e fez-se à estrada, mas nem aí as coisas correram como o planeado. “No trajeto desde minha casa até ao estádio tenho de passar por uma passagem de nível, só que ela estava fechada. Tive de dar a volta, e isso fez com que demorasse mais uns cinco minutos”, conta. Assim que chegou ao estádio, equipou-se num ápice e ainda trocou umas impressões com João Pereira, o árbitro que se havia lesionado. “Ele disse-me que ia correr tudo bem”, partilha Marco Rodrigues, que avisou desde logo que “podiam acontecer erros” devido ao contexto em que tudo aquilo ocorreu. “Ele disse-me para estar tranquilo, porque errar pode acontecer a qualquer um”, completa.



A partida seria retomada e chegaria ao seu final quase duas horas e meia depois do apito inicial. Para lá da história que poderá contar em qualquer jantar de família, Marco Rodrigues aproveitou a ocasião para cumprir mais uma etapa na recuperação de uma lesão que o tem deixado de fora dos relvados desde o arranque da temporada. “Acabou por ser um teste. Foi bom, estava a precisar”, confessa. Na sua ainda curta carreira, nunca tinha passado por uma situação em que uma lesão tivesse impedido um colega de equipa de prosseguir a partida. “Mas, no curso (de árbitros), aprendemos o que fazer nessas situações”, apressa-se a dizer, ele que descobriu a paixão pela arbitragem “quase sem querer”, há quatro anos.

Depois de ter completado a sua formação enquanto jogador na AD Ovarense, Marco viu-se forçado a deixar o futebol devido ao trabalho. “Entretanto, vi um anúncio na página da AFA e decidi inscrever-me”, conta, mas esta não é uma história de amor à primeira vista. “Fui a uma formação, faltei à seguinte e cheguei a pensar que, se calhar, isto não era para mim, mas arrisquei. Apanhei o bichinho”. Esta época, tornou-se árbitro principal e formou uma equipa de arbitragem, mas uma lesão impediu-o de se estrear. Depois de tudo o que aconteceu na manhã do último domingo, Marco Rodrigues demonstrou que está mais do que preparado para o regresso.

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4 de Janeiro de 2021
Rui Santos
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