Joeano, um goleador com mais de 200 golos de história
Duas jornadas, cinco golos. Joeano está de volta, e o principal beneficiado é o Pampilhosa, que luta por fazer "um campeonato tranquilo" na Série D do Campeonato de Portugal Prio, "sem ficar com a corda ao pescoço". Aos 37 anos, e mais de 200 golos depois, o ponta de lança brasileiro mantém a mesma paixão pelo futebol, do qual não se vê desligar nunca: "O futebol é a minha vida. Sem ele, não seria nada".

Demorou um pouquinho mais do que o habitual a afinar a pontaria, mas Joeano não falha. "
O golo não aparecia, e a confiança foi diminuindo. Pensava: já fiz mais de 200 golos na minha carreira e agora não está a correr bem? Porquê? Vi o que estava a correr mal e melhorei", conta o avançado, que, nos últimos dois jogos, completou um hat-trick, em apenas cinco minutos, na vitória diante do Tourizense (3-2), e bisou, no passado fim de semana, em Mortágua (2-2). No total, já leva seis tentos esta temporada.

Com o passar dos anos, os golos tornam-se cada vez mais importantes. "Isso é indiscutível. 
Se não fazemos a diferença, vão questionar sempre a idade", confirma Joeano, habituado às bocas que vêm das bancadas pelos seus 37 anos. "Dizem que estou velho, que já devia estar aposentado, mas eu reajo com golos. É a melhor resposta que posso dar", conta.

No fundo, Joeano continua aplicar a receita de sempre. O seu nome é, hoje, sinónimo de golos, muitos dos quais ao serviço de clubes aveirenses. Aliás, a aventura europeia deste brasileiro nascido e criado no estado de Fortaleza começou, em 1999, no Arrifanense, à data a competir na extinta 2.ª Divisão B.

"Foi muito mau. Sou o mais novo de cinco irmãos. Sair do Brasil e vir para a Europa, um continente frio, foi muito complicado, sobretudo para me adaptar. Por mais que falemos a mesma língua, são culturas e mentalidades diferentes", recorda. Em Arrifana, foi orientado por Dito e por Vítor Pereira, que mais tarde seria bicampeão nacional no comando do FC Porto. "Eles diziam-me que a minha hora ia chegar, que era muito novo", conta Joeano, que acabou por sair para o Esmoriz "através de um convite do Silva Morais".

Passou duas temporadas no clube da Barrinha, "uma com o Francisco Batista e outra com o Zé Pedro", que lhe disse que "tinha todas as capacidades para chegar à 1.ª Divisão". "Ele estava correto", diz um divertido Joeano, que em 2001/2002 foi o melhor marcador e ajudou o Esmoriz a subir à 2.ª Divisão B.

Contundo, alguns problemas no final dessa época - "d
isseram que estava a simular uma lesão e suspenderam-me" - levaram a que saísse para a Sanjoanense. "É um clube pelo qual tenho muito carinho. Quando estava no Arrifanense, e não era convocado, corria para o Estádio Conde Dias Garcia para ver os jogos", conta o avançado, que ao assinar pelos alvinegros cumpriu a promessa "ao Fernando, anjo da guarda desde que cheguei a Portugal".

Sem surpresa, deu nas vistas em S. João da Madeira, onde apontou 29 golos em apenas uma época. Entretanto, conheceu Jorge Mendes, que o levaria, em 2003, para o Salamanca, do segundo escalão espanhol. O negócio ficou fechado em Sevilha, durante a final da Taça UEFA que o FC Porto conquistou diante do Celtic (3-2), mas o destino de Joeano poderia ter sido bem diferente.

"O
 diretor desportivo do Celta de Vigo, o José Carneiro, foi ver-me jogar. Fiz cinco golos em dois jogos. Ele ficou doido e queria levar-me. Liguei ao Jorge Mendes, e ele disse-me para ir para o Celta. Entretanto, ele convidou-me para ir ver a final da Taça UEFA, em Sevilha. Estava lá o diretor desportivo do Celta, mas o Jorge deu-me a volta a cabeça em cinco minutos e fui parar ao Salamanca", recorda.

Para além de Espanha, Joeano passou pelos campeonatos israelita e cipriota, onde foi, inclusivamente, o artilheiro da 1.ª Divisão, ao serviço do Ermis Aradippou. Em 2011, decidiu regressar a Portugal, e o destino foi Arouca: "O
 presidente, Carlos Pinho, ligou ao meu empresário e eu aceitei ir conversar com ele. Disse-me que tinha um projeto de subida de divisão, achei aliciante e aceitei".

Em Coimbra, quando os amigos lhe diziam que não conheciam o seu novo clube, Joeano avisava: "Hoje não sabem onde fica Arouca, mas amanhã vão saber". O tempo veio dar-lhe razão, e, hoje, "é um clube que está nas bocas do mundo".

Depois de um ano em que fugiu da despromoção apenas na última jornada, o sonho do Arouca de subir à Liga acabaria por se concretizar em 2013. O goleador ajudou à festa com 24 golos no campeonato, um dos quais no jogo decisivo frente ao U. Madeira. "
Foram poucos os anos em que me vieram as lágrimas, e esse foi um deles. Por mais que seja uma vila pequena, escondida de outros horizontes, as pessoas de Arouca são espetaculares. Foi um marco na minha história", confessa.

Seguiu-se um ano no Rio Ave, antes de chegar a Anadia. "Foi complicado, e até hoje é, porque fui muito mal habituado", admite. Acostumado às exigências do profissionalismo, Joeano viu-se confrontado com uma "realidade que fugia àquilo que estava habituado".

"
Quando me deparei com isso perguntei para mim mesmo: Onde é que vim parar? Foi um choque, mas depois adaptei-me e as coisas correram de melhor maneira possível, em termos de golos e de pontuação", recorda, ele que acabaria por cumprir duas épocas em Anadia.

No ano passado, em Leiria, reviveu os tempos de profissional de futebol, mas acabou por deixar a cidade Lis e regressar a Aveiro, desta feita para representar o Pampilhosa: "Os companheiros
 têm-me ajudado muito, tal como a equipa técnica e os fãs do clube. Isso fortalece-me muito".

Com a carreira a caminhar para o fim, Joeano já pensa no futuro."
Vou continuar no futebol. Não me imagino noutra área", admite, ele que está a concluir o primeiro nível de treinador de futebol. A primeira experiência no banco aconteceu no "Esperança Atlético Clube, do concelho de S. Martinho do Bispo, em Coimbra". "Foi com os iniciados, e as pessoas até me disseram que tinha alma para aquilo. Gosto de passar aquilo que aprendi como jogador aos mais novos", remata o goleador.

Gafanha vence antes de receber o FC Porto
Na Série D do Campeonato de Portugal Prio, para lá da igualdade do Pampilhosa em Mortágua, realce para o triunfo do líder Gafanha na casa do Lusitano, por 3-2. Renan, Mino e Nadson marcaram para o conjunto orientado por Nuno Pedro, em vésperas de receber o FC Porto, para a Taça de Portugal Placard.

Já o Anadia, empatou a um golo na visita ao Nogueirense (Davide), e o Águeda perdeu em Touriz, por 3-1 (André).

Quanto à Série C, a Sanjoanense venceu o dérbi com a Oliveirense, por 2-0. O resultado foi construído ainda na primeira parte, graças aos golos de Vinícius e Zé Pedro. Por igual resultado, o Estarreja bateu o Cinfães (Miguel Silva e Alex), enquanto o Cesarense perdeu em casa do Sousense (1-0).

Fotografia
Facebook do FC Pampilhosa
12 de Outubro de 2016
Rui Santos
ruisantos@afatv.pt