Jhow, o "barbeiro dos atletas" que resolve jogos para o Fiães SC no Campeonato SABSEG

Ao vencer na casa da JuveForce (0-1), o Fiães SC acabou com um jejum de triunfos fora de portas que durava há mais de três meses e, desse modo, ganhou outra tranquilidade no Campeonato SABSEG. O jogo foi resolvido por Jhow, o “barbeiro dos atletas”, que confessa ter ficado “um bocado tolo” após o golo que marcou. “Fiquei emocionado, não sabia o que fazer”, recorda.

Já todos sabem que o futebol pode mudar vidas, mas nem sempre isso acontece pelo que acontece estritamente dentro das quatro linhas. Genilson Júnior é um exemplo perfeito disso.

Natural do Rio de Janeiro, virou Jhow nos tempos da escola, devido a uma personagem de um filme com a qual diziam ser parecido, e a alcunha virou imagem de marca desde então. “No futebol, quando foi para colocar o nome na camisola, aproveitei e meti Jhow”, conta.

Em 2018, deixou tudo para trás em busca do sonho de fazer carreira como futebolista em Portugal. “Vim com a intenção de não regressar ao Brasil e, conforme o tempo foi passando, a ideia de permanecer aqui foi fortalecendo. É um país de que gosto muito e espero ficar o resto da vida”, diz, pese embora as saudades da família, que visita, por norma, de três em três anos.

Na Geração RD, em Santa Maria da Feira, o primeiro clube que representou por cá, encontrou um porto de abrigo e, longe de o saber nessa altura, uma inspiração para se reinventar. Entretanto, o irmão, Júlio Romão, mudou-se para o CD Santa Clara, da Liga, e este foi um capítulo fundamental para a nova vida de Jhow, que já ia dando uns toques na arte de cortar o cabelo.

“Nunca tinha sido barbeiro, aconteceu em Portugal. Quando cheguei, não tinha trabalho. Comecei a cortar o cabelo a uns amigos com uma máquina velha que tinha e que fazia um barulho do caraças. Cortei a um, depois a outro e a outro. Vi que dava para fazer aquilo dali para a frente. Comecei a especializar-me, a ver vídeos na internet, e tinha um treinador, o Gaúcho, que tinha uma barbearia em Santa Maria da Feira. Ele deu-me a oportunidade de trabalhar lá”, recorda o agora jogador do Fiães SC.

Entretanto, o CD Santa Clara, onde jogava o irmão Júlio, foi estagiar a Penafiel e Jhow foi até lá para cortar o cabelo aos jogadores do clube açoriano. “Eles gostaram e sempre que vinham para aqui perto ligavam-me. Pegou e eu comecei a aprimorar a minha estética, fiquei 'afiado' no corte. Comecei a conhecer muitos jogadores, a cortar o cabelo a um e a outro. Acabou por ficar o apelido de 'barbeiro dos atletas'”, conta.

A carreira do irmão levou-o para outras latitudes, primeiro o Azerbaijão, onde representou o Qarabag, depois a Hungria, onde joga atualmente pelo Ferencváros. Com isso, Jhow passou a viajar pela Europa para tratar da estética capilar dos craques dessas equipas. “Lembro-me de um jogo do Qarabag com o Braga, para a Liga Europa, em que fui lá cortar o cabelo deles. Teve outro com o Tottenham e outro com o Olympiacos, e eu fui a Inglaterra e à Grécia”, enumera.

Essa fama também lhe valeu mais clientela por cá. “A malta desta zona vem toda cortar o cabelo comigo. É bom porque acabo por juntar os amigos do futebol. Faço amizades com adversários que jogam contra mim. A parte mais importante do futebol e do meu trabalho é fazer amizades. É o que sei fazer melhor”, atira.

Voltando ao futebol, Jhow solta uma gargalhada quando recorda o festejo do golo que valeu o triunfo do Fiães SC frente à JuveForce, no último fim de semana. “Os meus amigos dizem que fiz cinco ou seis festejos num só. Rodei os braços e lembrei-me de que vou ser pai novamente. Estava a enfrentar um problema familiar um bocado complicado e o golo surgiu num momento em que precisava muito”, explica o fã de Ronaldinho Gaúcho e de Ronaldo, o 'Fenómeno', o jogador que mais gostou de ver jogar.

Com o Fiães SC confortavelmente instalado na zona intermediária da tabela, o objetivo até ao final da temporada passa por “tentar subir o máximo de lugares possível”, até porque “é diferente estar em décimo ou em quinto, até para a imagem do clube e pelo excelente trabalho que está a ser feito”.

Fotografia
Bruna Ferreira | BRF.Visuals

27 de Março de 2025