Heróis dentro e fora do campo

Portugal enfrenta uma pandemia que obrigou grande parte do país a parar e a fechar-se em casa, mas nem todos o podem fazer. Há setores na nossa sociedade que, pela sua importância para o bem comum, não podem pura e simplesmente suspender a sua atividade. A medicina e a enfermagem seguem à cabeça desse pelotão, por estarem na linha da frente do combate à Covid-19, e são campos férteis em exemplos de como é sempre possível dar um bocadinho mais de nós no auxílio aos mais necessitados. A AFA TV conta-lhe a história de uma médica e quatro enfermeiros, que têm a particularidade de conjugarem as carreiras profissionais com o desporto.

Andreia Matos: “Sou uma doente de risco mas tenho de pôr o medo de lado”
 


Nas vésperas de começar a trabalhar num centro de despiste da Covid-19, instalado no Queimódromo do Porto, Andreia Matos, enfermeira de profissão, deixou uma mensagem profunda na página oficial do Fiães SC, o clube que representa. Nela admitia sentir medo, “é impossível não o ter”, ou não fosse ela própria uma doente de risco, já que sofre de asma. “Também já tive de fazer o teste. Estive em quarentena, porque me apareceram os sintomas, mas ele deu negativo”, conta, ela que ganhou o gosto pela enfermagem nos tempos em que foi bombeira, era ainda uma adolescente. Agora, sabe que terá de ser corajosa para poder desempenhar um papel preponderante no combate à propagação da doença. “Tenho de pôr de lado os meus medos, porque a pessoa que está à minha frente vai precisar de mim”, diz a enfermeira, de 26 anos, para quem o medo também tem aspetos positivos, pois, “enquanto o tivermos, vamos ter o cuidado de nos protegermos”. No posto instalado no Queimódromo do Porto são realizados, diariamente, centenas de testes, um número que, presumivelmente, aumentará com o evoluir da pandemia. O trabalho ali realizado, articulado com a Câmara Municipal do Porto e a ARS do Norte, tem como objetivo aliviar um pouco os hospitais e os centros da saúde.


João Ferreira: “Tenho de desempenhar o meu papel para proteger os idosos”
 



João Ferreira, conhecido no futebol como João Canteiro, ocupa um lugar no meio-campo do AC Famalicão. Hoje, o médio depara-se com uma realidade que o obriga a “distribuir o jogo” fora de campo. O jovem, de 22 anos, é enfermeiro há cerca de um ano e trabalha, atualmente, num lar de idosos, em Bustos, no concelho de Oliveira do Bairro. “Estava em prestação de serviços no hospital de Anadia, mas o bloco operatório fechou e fui dispensado. Contudo, tive de fazer um plano de contingência para um lar de idosos”, explica, ele que lida com um grupo de risco perante a Covid-19. “Estamos a entrar numa fase crítica e seria ótimo se o pico de contágio fosse alcançado em breve. Isso seria muito bom para toda a população, mas vamos ter de aguardar. Até lá, tenho de desempenhar o meu papel para proteger os idosos. Os utentes estão em monitorizações de temperatura duas vezes ao dia e os contactos, mesmo entre funcionários, são apenas os essenciais”, revela. O médio do AC Famalicão admite o seu fascínio pela enfermagem, que “vai para além da própria ciência”, já que também aprecia “o lado social” da profissão.


Andreia Santos: Uma professora que virou enfermeira dedicada
 



Não se pode dizer que a relação entre Andreia Santos e a enfermagem tenha sido de amor à primeira vista. A centrocampista do Fiães SC começou por se licenciar em Educação Física, mas o panorama com que se deparou quando deixou a Faculdade, marcado pela falta de oportunidades, fê-la repensar o futuro. Então, decidiu juntar-se ao INEM e foi aí que surgiu a ideia de ir estudar enfermagem. Terminou o curso em 2011 e, dois anos depois, teve a sua primeira experiência profissional. Hoje, trabalha na ala de internamento do hospital São João, no Porto. Lidar com o facto de as famílias não poderem visitar os doentes, como medida de prevenção à propagação da Covid-19, é um desafio diário para Andreia, que, aos 37 anos, não desarma na missão de ajudar o próximo. “Obrigado por lutares por nós. Toda a equipa está a ajudar, ficando em casa, como tu nos pedes”, publicou o Fiães SC na sua página oficial, naquele que é um tributo ao esforço da sua atleta.


Marcelo Silva: A vontade de mostrar um cartão vermelho à Covid-19
 



Se há matéria em que Marcelo Silva é especialista, é a das boas práticas com o próximo. O árbitro de futebol dos quadros da AFA recebeu um cartão branco, há duas épocas, depois de auxiliar um guarda-redes que chocou com um adversário. Entretanto, concluiu o curso de enfermagem, no ano passado, e, hoje, está na linha da frente no combate à Covid-19. Com apenas 22 anos, trabalha num laboratório de análises clínicas, faz o acompanhamento a toxicodependentes com administração de metadona e colabora com uma farmácia. “Tive de fazer três planos de contingência nos locais onde trabalho. Para isso, tive de ler muito sobre esta situação e planear as coisas para evitar que os serviços fechassem”, explica, ele que se viu obrigado a ficar em isolamento após suspeita de contágio. “A 6 de março colhi sangue a um paciente, e só no dia 14 obtive a informação de que ele estava infetado e tinha sido internado no Hospital de São João, no Porto. Como o contacto foi considerado crítico, tive de ir uma semana para casa, em isolamento, porque já tinha passado uma semana desde esse contacto. O isolamento terminou no dia 20 e não tenho qualquer sintoma de Covid-19”, revela. Marcelo Silva foi chamado, entretanto, para colaborar com a linha de apoio da Saúde 24, admitindo que “pode ainda vir a ser possível prestar serviço na zona de Ovar”.


Mariana Pinto: “Só ficando em casa conseguiremos vencer esta batalha”
 



É certo que, por todo o distrito de Aveiro, multiplicam-se os exemplos de perseverança num momento delicado como este, mas esta é uma luta de todos, sem fronteiras que separem o espírito de união vivido na luta diária contra a Covid-19. É aqui que entra Mariana Pinto, médica de 27 anos, que defende as cores da Académica no distrital de futsal feminino de Coimbra. Natural de Chaves, viu a paixão pela medicina manifestar-se bem cedo, desde os tempos dos escuteiros, em que era a ‘socorrista’ de serviço. Tirou a especialização em Medicina Desportiva, sendo que, atualmente, cumpre o penúltimo ano na especialidade de Medicina Geral e Familiar. “Dia após dia, batalhamos no centro de saúde, nas urgências, na linha de apoio ao médico, nos contactos diretos e indiretos com os utentes, para que estes fiquem mais esclarecidos e, idealmente, o mais saudáveis possível”, conta, à AFA TV. “Estes dias têm disso uma azáfama, sem o descanso desejado, mas a esperança de que estamos a fazer o nosso melhor dá-nos ânimo para o dia seguinte”, completa Mariana, que pede aos portugueses para ficarem em casa. “Só assim conseguiremos vencer esta batalha”.


Fotografias
Direitos Reservados | Fotos Futebol Aveiro

28 de Março de 2020
Banner Seaside Promo
Instagram AFA
Notícias Relacionadas
Categorias
Tags
Facebook
Notícias Mais Lidas