Henrique Santos precisa de ajuda e o futebol abriu-lhe uma via para a conseguir

Esteve internado durante 143 dias, perdeu toda a mobilidade e nem o filho mais novo pôde ver nascer. De um momento para o outro, uma doença neurológica colocou a vida de Henrique Santos e da sua família em suspenso, com constrangimentos diversos, que levaram Sérgio Silva, antigo companheiro de equipa nas camadas jovens da AD Argoncilhe, a criar uma campanha de recolha de donativos para o ajudar. “Isso encheu-me o coração de alegria e dá-me força para poder voltar ao que era”, salienta Henrique.

“As amizades foram a maior riqueza que o futebol me deu”. A frase pode parecer um simples clichê, mas foi proferida por Caetano, que fez carreira no futebol profissional e foi internacional pelas seleções jovens nacionais, no dia em que se despediu dos relvados, em janeiro deste ano. Nesse mesmo mês, Henrique Santos descobriu que aquilo que Caetano disse é muito mais do que uma ideia feita.

Durante a juventude, Henrique percorreu os escalões jovens da AD Argoncilhe, deixando o futebol assim que se tornou adulto. As amizades, essas, perduraram, e mesmo quando pareciam esquecidas emergiram num dos momentos mais complicados da sua vida. Aos 39 anos, viu o seu quotidiano transformar-se radicalmente. Diagnosticado com síndrome de Guillain-Barré, uma doença neurológica autoimune que provoca fraqueza muscular generalizada, esteve internado durante 143 dias no hospital São Sebastião, em Santa Maria da Feira, sendo que nos dois primeiros dias esteve em coma induzido. “De repente, caí numa cama de hospital”, desabafa, sem procurar uma explicação.

Durante os meses em que esteve internado, nasceu o seu segundo filho, um momento que lhe custou perder. “O meu maior desgosto é não conseguir pegar nele ao colo”, confessa, mas diz-se pronto para enfrentar a doença. “Em termos psicológicos estou bem. O que me safou foi ter a cabeça no sítio”, salienta, enquanto agradece os cuidados que recebeu durante o tempo em que esteve internado: “Foram todos fantásticos comigo”.



Entretanto, a história chegou aos ouvidos de Sérgio Silva, antigo companheiro de equipa de Henrique Santos nas camadas jovens da AD Argoncilhe, que não demorou a agir. Os anos foram-se passando, mas Sérgio nunca esqueceu “um rapaz muito humilde, de quem toda a gente gostava”, e a quem chamavam carinhosamente de Pica, “por ser magrinho e alto”.

Assim que encontrou o amigo, que não via há mais de dez anos, visitou-o para perceber de que forma podia apoiá-lo. “Verifiquei que havia gente a ajudar em termos de alimentação, mas é preciso dinheiro para as outras coisas. Esteve seis meses internado, com dois filhos e a esposa desempregada. Percebi que eles precisavam de dinheiro, para terem alguma independência financeira”, explica, razão pela qual decidiu criar a página Ajuda o Henrique e a sua família, com o objetivo de recolher fundos para esse efeito. Já foram angariados perto de 1800 euros, transferidos diretamente para Henrique Santos.

Durante o tempo necessário para serem tratadas as burocracias inerentes à requisição de apoios sociais - esta semana ficou finalizado o processo referente à obtenção de um atestado multiusos, que lhe conferiu uma incapacidade superior a 90% - foi necessário cumprir com as obrigações comuns a qualquer família, bem como suportar os tratamentos a que Henrique tem de ser sujeito.

Sérgio garantiu que o amigo não ficaria privado das sessões de fisioterapia, indispensáveis para uma evolução positiva na recuperação da doença, e que já devolveu a Henrique alguma mobilidade. “Em duas semanas, notei muitas diferenças nele. Chegou sem conseguir mexer nada, mas agora já mexe as mãos e levanta os braços. Mas tudo vai levar o seu tempo”, sabe Sérgio Silva.

Henrique tem feito por aproveitar ao máximo cada sessão. “É muito puxado, mas faz-me bem. São umas dores... Nunca imaginei passar por isso. Estou numa maca ao alto, preso por três cintas. Faço electroestimulação nos braços e nas pernas e, depois, trabalho muscular”, conta, enquanto refere que os seus músculos “desapareceram todos”. Vale-lhe a força de vontade e os incentivos da terapeuta. “Ela puxa por mim e é assim que eu quero. Eu digo-lhe que vou voltar a andar, custe o que custar, porque tenho os meus filhos para poder brincar”, atira.

A campanha criada para o apoiar apanhou-o de surpresa e foi “das maiores alegrias que podia ter”, garante Henrique. “Eu pensava que já se tinham esquecido de mim, mas quando me vieram visitar senti que é gente que gosta de mim. Isso encheu-me o coração de alegria e dá-me força para poder voltar ao que era”, salienta. Os colegas do trabalho, na corticeira Cork Supply Portugal, também não ficaram indiferentes à situação e juntaram dinheiro para lhe comprar uma cadeira de rodas elétrica, tendo a empresa assumido o valor remanescente.

Quem pretender contribuir para a campanha pode fazê-lo através de transferência bancária, pelo IBAN PT50 0193 0000 1050 3889 8177 2, ou por MBWay, pelo número 937 208 050.

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14 de Fevereiro de 2021
Rui Santos
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