Para um homem caseiro como Marco Soares, não terá sido tão estranho quanto isso abrir-se aos adeptos do FC Arouca no conforto do lar, numa conversa em que nada ficou por responder. Da imbatibilidade dos ‘canarinhos’ no Estádio Municipal ao atual formato do Campeonato de Portugal, o médio, internacional de Cabo Verde, desdobrou-se em respostas e deixou algumas pistas para o futuro.

Aos 35 anos, as prioridades de Marco Soares estão bem definidas. A estabilidade familiar sobrepõe-se ao espírito aventureiro de outrora, e foi muito por isso que, esta época, o jogador decidiu deixar o CD Feirense, da LigaPro, para se juntar ao FC Arouca, que havia caído ao Campeonato de Portugal, na temporada anterior. “Sinto que dei três passos em frente, a nível pessoal, ao vir para cá. Nesta fase da carreira, isso é o mais importante”, confessou, em conversa com os adeptos arouquenses, que não perderam a oportunidade de conhecer melhor um dos indiscutíveis na equipa que apoiam.

Entre outras curiosidades, ficaram a saber que Marco é um homem apreciador das coisas simples da vida, que gosta de “estar em casa, ir ao cinema, passear e estar com a família e os amigos” e que, para além do futebol, gosta de jogar Ludo King, “até porque ganho quase sempre”. Fã do Flamengo de Jorge Jesus, diz que Pablo Aimar foi o jogador que mais o impressionou enquanto adversário. “Ele pensava duas vezes mais rápido do que os outros jogadores”, recorda, uma caraterística que também distinguia Zinedine Zidane, que sempre admirou.

A sua longa carreira fê-lo disputar os principais campeonatos de países como o Chipre, a Roménia e Angola, para lá do português. Esta época, regressou ao 3.º escalão nacional, hoje denominado de Campeonato de Portugal, 15 anos depois de o ter disputado pelo Barreirense. “Naquela altura, só havia três zonas e subiam os vencedores de cada uma delas”, recorda. Isso fá-lo considerar “o atual modelo muito injusto, porque são muitas equipas e só sobem duas”. “Por exemplo, estamos a fazer um excelente campeonato mas, no playoff, podendo ter um dia mau, podemos correr o risco de ser eliminados. Isso não faz sentido e tem de ser revisto”, explica.

A boa época do FC Arouca tem tido no percurso em casa o seu expoente máximo. São 13 vitórias em igual número de jogos disputados no Estádio Municipal, um registo que se explica pelas entradas fortes nos jogos e pelo apoio dos adeptos. “É muito difícil às equipas aguentarem a pressão e a intensidade que nós metemos, sobretudo, nas primeiras partes. Temos tirado muito proveito disso”.

Líder destacado da Série B do Campeonato de Portugal, o FC Arouca “não pode relaxar” quando o futebol estiver de volta, seja isso quando for. Marco Soares diz-se pronto para tudo, até para jogar mais do que uma vez por semana, com o objetivo de terminar a competição. “Não faz sentido não se acabar, até pelo investimento feito pelas equipas. Penso que se vai arranjar uma solução”, acredita o médio, que espera ajudar o clube a reerguer-se. “O meu objetivo é subir de divisão e, para o ano, tentar subir novamente à Liga. Isso seria algo de muito bom para o clube”, admite, por entre elogios a Henrique Nunes, “um grande ser humano, além de um excelente treinador”.

Mostrando-se disponível para “ajudar naquilo que for necessário” a seleção de Cabo Verde, Marco Soares confessa que a ideia de poder vir a tornar-se no selecionador do seu país lhe agrada. “Muita gente me pergunta se, no futuro, posso vir a ser o selecionador. Vou começar a preparar-me para isso. Quem sabe?”

Essa será uma das possibilidades de futuro quando abandonar os relvados, mas não a única. Marco confessou aos fãs do FC Arouca que “gostava de ser educador de infância” e já se informou sobre os cursos que pode fazer para vir a sê-lo. “Quando lhes digo isto, os meus amigos acham que estou a gozar, mas eu gosto muito de crianças”, justificou.

Fotografia
Pedro Fontes | Futebol Clube de Arouca