Balanço do Campeonato SABSEG por Sérgio Oliveira

Mais do que o fim prematuro do Campeonato SABSEG, fica a sensação de um duro choque com uma nova realidade. Uma nova realidade de dimensão nacional e internacional que nos deixa aprisionados há demasiado tempo sem podermos usufruir desta paixão que nos move, o futebol.

Tal como escrevi algumas vezes, não acredito no mito das equipas que jogam para o “campeonato tranquilo”. Esqueçam. Isso simplesmente não existe dentro de um relvado, jornada após jornada. No entanto, na impossibilidade de olhar em detalhe para cada uma das equipas, existem algumas performances que se sobrepõem a outras. É natural que assim seja numa competição.

Não foi uma temporada de grandes surpresas no que respeita à liderança da prova, até porque os treze pontos de vantagem alcançados pelo São João de Ver refletem, claramente, uma superioridade anunciada desde o início. Em bom rigor, Ricardo Maia dispôs de um plantel de enorme talento individual e, com o decorrer da época, ficou latente que o técnico soube tirar proveito dessas mais-valias. Seria, para mim, uma questão de semanas até à conquista do Campeonato SABSEG.

Apesar desta não surpresa, seria expectável, fruto da aposta na construção dos seus plantéis, que o Pampilhosa e o União de Lamas conseguissem questionar, em alguns momentos, esta supremacia evidenciada pelo São João de Ver, mas tal não se confirmou.

No caso do União de Lamas perdera a hipótese de lutar pelo campeonato demasiado cedo, criando um abismo para o primeiro lugar e, a certo ponto, para o segundo (recuperou muito devido à quebra da Ovarense). Entretanto, a equipa foi melhorando, mas nesse processo de conhecimento – Ricardo Nascimento estreou-se no campeonato aveirense e vários jogadores estrangeiros tiveram de se adaptar a uma nova realidade – perdera-se a hipótese de lutar pelo primeiro lugar.

Já o Pampilhosa parece-me que caiu agarrado às suas convicções, que em nenhum momento, mesmo quando começou a ver o fosso aumentar para o topo, colocou em questão. Fiquei com a sensação de que João Pedro colocou a equipa a praticar um futebol positivo, mas que a matéria-prima de que dispunha, como o caso do talentoso Rui Miguel, só para dar um exemplo, deveria ter dado para algo mais do que os vinte e um pontos de atraso para a liderança.

A Ovarense, com uma tremenda vontade de deixar marca, acabou por ser o ponto inesperado da época, chegando a questionar a supremacia do São João de Ver. A aquisição de consciência da realidade do campeonato, isto é, o reconhecimento de Tiago Leite para as diferenças que existiam da sua equipa relativamente aos clubes mais apetrechados, fez com que incutisse uma mentalidade forte nos seus jogadores, que os levou, durante largas jornadas, à liderança da prova. Escrevi, no início do campeonato, que a construção do plantel dava a garantia de que seria possível – de forma algo natural – romper com o histórico recente de subidas e descidas. Por outro lado, terminar a prova no segundo lugar foi, claramente, a revelação da época ao mais alto nível.

O Avanca e o Cesarense foram os protagonistas da prova no que diz respeito à regularidade, e atingiram, inclusive, um patamar exibicional elevado. Estas performances contrastam, inequivocamente, com a “versão” mais irregular do Bustelo e do Fiães. Esta analogia faz sentido pelo simples facto de reconhecer uma enorme qualidade nos plantéis de Miguel Oliveira e de Zé Pedro.

A luta da manutenção foi empolgante, para quem a via como mero adepto, mas terrível, de pôr os cabelos brancos, para os treinadores que não conseguiam descolar dos últimos lugares. Neste chamado “campeonato à parte” existem duas equipas que, nas últimas jornadas, parecem ter acordado para uma nova realidade.

Em primeiro lugar o Carregosense, que voltou a ter Luís Miguel Martins como protagonista. Assumiu o comando da equipa numa altura em que ocupava os últimos lugares e cavou um fosso de oito pontos para a 'linha de água'. Digno de registo.

Em segundo lugar o Paivense de Carlos Manuel. Seria difícil imaginar, fruto dos meses consecutivos no último lugar, que a turma de Castelo de Paiva terminaria a época a três pontos da tábua de salvação. A última vitória, “made in Machadinho”, frente à Ovarense, demonstra claramente que teríamos uma equipa em ascensão até ao final da época.

No Campeonato SABSEG estava tudo em jogo, e era muito. Não se tratava apenas da decisão do campeão, mas também o acesso à Taça de Portugal, à final da Taça de Aveiro e as subidas e descidas de divisão. Estou plenamente convicto de que a prioridade, para todas as equipas, independentemente da classificação, seria a normal conclusão do campeonato. Porém, esta situação absolutamente inédita levou a um desfecho que, no meu entender, foi o mais natural possível.

Um abraço!

29 de Abril de 2020
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