Melhor preparadas, com estruturas mais fortes e plantéis ao nível da exigência. Para António Correia, ex-treinador do SC Paivense, e Sérgio Oliveira, comentador da AFA TV, a atual classificação dos clubes que subiram esta época ao Campeonato SABSEG reflete uma evolução na forma como os seus responsáveis planearam a chegada ao topo do futebol aveirense, com destaque natural para a AD Ovarense, que segue na vice-liderança da prova.

Ao cabo de 23 jornadas, do quarteto de equipas promovidas na temporada passada à Divisão de Elite, apenas o AC Cucujães segue em zona de despromoção. As restantes, AD Ovarense, São Vicente Pereira e Canedo FC, têm demonstrado um certo à-vontade entre os grandes do distrito, algo que se explica, em grande parte, por um planeamento adequado da época.

“Até aqui, as equipas que subiam não queriam agravar a sua situação financeira. Então, seguravam o que tinham de épocas anteriores e iam buscar dois ou três jogadores para completar o plantel. Só que viram que isso não era suficiente e que era necessário, diretiva e desportivamente, serem mais fortes”, refere António Correia, que passou uma década no principal escalão do distrital, no comando do SC Paivense.

O treinador defende a sua teoria com os exemplos do Canedo FC, que “pouco ou nada manteve da época passada e se reestruturou por completo”, do São Vicente Pereira, que “foi buscar muitas primeiras linhas do São João de Ver, que vinha fazendo épocas muito bem conseguidas”, e da AD Ovarense, que “segurou as mais-valias da época passada e reajustou o plantel em posições essenciais, com o Renato na baliza, o Gustavo na defesa, o Marmelo no meio-campo e, na frente, o Luccas Marques”.

“A prova está no campeonato que estão ao fazer”, um trajeto que demonstra que “as equipas que vieram da divisão de baixo precaveram-se” para o que iam encontrar. No polo oposto está o AC Cucujães, “o único que não fez uma reformulação profunda do plantel”, aponta, por seu turno, Sérgio Oliveira, o que o deixou “muito aquém das outras três equipas” promovidas na época passada, complementa António Correia.

Um trio a contrariar a regra
Por norma, quando uma equipa chega a um novo campeonato oriunda de um escalão inferior, as probabilidades de se manter por lá jogam contra si. Na Elite de Aveiro, os números ajudam a explicar essa ideia. Se o Campeonato SABSEG terminasse agora, seria a segunda vez, na última década, que o saldo entre permanências e despromoções das equipas promovidas na época anterior seria positivo. A restante aconteceu em 2014/2015, ainda que com a condicionante de o SC Fermentelos, que havia sido campeão da 2.ª Divisão Distrital na temporada transata, ter decidido suspender a equipa sénior. Assim, em vez de quatro, foram promovidas apenas três equipas, das quais só a AD Ovarense acabou por descer de divisão.

De resto, a tendência dos últimos dez anos varia entre um rácio de 50% entre as equipas que se mantêm e as que são despromovidas (2010/2011, 2013/2014 e 2016/2017) e, como se viu nas duas últimas temporadas, situações em que apenas um clube se consegue segurar na Elite aveirense (2011/2012, 2017/2018 e 2018/2019). Em duas épocas, nenhuma das equipas promovidas conseguiu a permanência. Aconteceu eu 2012/2013 e 2015/2016.

À quarta foi de vez para a AD Ovarense
Uma das equipas mais vezes referencia nesta estatística é a AD Ovarense. Na última década, a equipa do concelho de Ovar subiu por quatro vezes à Divisão de Elite, mas só esta época se conseguiu afirmar. Para Sérgio Oliveira, as muitas mudanças verificadas no clube, nos últimos tempos, ajudam a explicar o atual trajeto positivo. A começar pela direção, “jovem, com pessoas que têm vontade de mostrar trabalho”, a qual “acabou por arrastar mais adeptos e juntar o clube à cidade”.

No plano desportivo, chegou um novo treinador, Tiago Leite, “vareiro, com escola do FC Porto e que está com vontade de se afirmar”, que construiu um plantel forte. “Nos anos anteriores, mantiveram a espinha-dorsal da equipa, mas este ano tiveram mais critério a contratar”, acredita Sérgio Oliveira, que não tira da equação o fator Marques da Silva. “Atualmente, a Ovarense será o clube que mete mais adeptos no estádio. Jogar ali nunca foi fácil”.

O resultado assenta numa temporada extremamente positiva, passada toda ela nos lugares cimeiros do Campeonato SABSEG. “Em alguns momentos foi líder da prova e está na meia-final da Taça de Aveiro”, acrescenta António Correia. O atual 2.º lugar, apenas atrás do SC São João de Ver, “surpreende pelo facto de a Ovarense vir da 1.ª Divisão Distrital”, admite Sérgio Oliveira, mas “a equipa que foi construída e a própria história do clube” acabam por esbater essa surpresa.

Entre a competitividade e o planeamento
A afirmação da maioria das equipas promovidas, esta época, ao Campeonato SABSEG demonstra que elas “prepararam-se melhor para esta competição, também fruto do sobe e desce dos últimos anos”, defende Sérgio Oliveira. No entanto, o antigo avançado, que vem acompanhado a competição na rubrica Visão de Jogo, considera que “o campeonato está um pouco menos competitivo do que em épocas anteriores”, que tinham “seis ou sete equipas muito fortes a lutarem pelo 1.º lugar”. “Este ano, o único clube que investiu a esse nível foi o São João de Ver. Existe uma diferença grande entre ele e as restantes equipas, ao nível do investimento”, sublinha.

Para António Correia, “cada um vê esta questão da maneira que entende”. Na sua opinião, “o campeonato continua a ser exigente, com grandes treinadores e jogadores e estruturas cada vez mais fortes”, obrigando a um planeamento rigoroso e ambicioso para o enfrentar, mesmo por parte dos clubes com mais história na prova. “Numa fase inicial, algumas equipas sentiram que com pouco poderiam fazer muito, mas isso nem sempre se consegue atingir. A prova evidente disso foi o que as equipas tiveram de fazer no mercado de inverno”, no qual “São Vicente Pereira, Canedo ou Ovarense, que se precaveram logo no começo da época”, estiveram muito menos ativos do que muitos dos seus adversários.

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